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A voz do Povo

Solano Trindade, o poeta do povo e um escritor negro, que deixou uma grande presença no Brasil, principalmente em São Paulo na cidade de Embu, onde criou um pólo de cultura e tradições afro-americanas. Um dos poetas da resistência negra e que carregava em sua pele as motivações de sua luta, declamando em seus versos a realidade do povo, as mazelas de um país adepto ao racismo. Filho de Francisco Solano Trindade e Emerência Maria de Jesus Trindade, conhecida como Quituteira Merença, ele nasceu em 24 de Julho de 1908, no bairro de São José, no Recife, Pernambuco. Era poeta, pintor, teatrólogo, ator, escritor e folclorista.

Sua luta não foi somente contra o racismo, e sim pelos direitos de todos. Uma batalha contra a fome, a miséria da população. Solano escreveu em um de seus poemas: “Uma negra me levou a Deus e outra me levou para a macumba”. Em seu primeiro casamento ele se tornou evangélico devido sua esposa ser presbiteriana, e no seu segundo casamento como sua poesia diz, sua esposa o levou ao candomblé. Porém mesmo com passagens nessas religiões, se declarava ateu.

Passou por vários lugares no Brasil, dentre deles: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio Grande do Sul, Pelotas, Rio de Janeiro e São Paulo. Escreveu dois livros, dentre eles o “Poema de uma vida Simples” onde tinha os versos da poesia ‘Tem gente com Fome’(Trem da Leopoldina) que o levou a prisão pela segunda vez na ditadura Militar do Estado Novo, sendo na primeira quando estava em um comício. Tornou-se Militante comunista assim que chegou ao Rio de Janeiro, no meado da década de 40, logo após ter se filiado ao Luiz Carlos Prestes.

Próximo ao fim de sua vida, desligou-se das atividades políticas devido os correligionários dele acharem que o problema do negro era só econômico e não racial. Entretanto falecerá socialista no Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de 1974. Solano faleceu, porém sua obra continua viva, na pele de cada brasileiro. “Um homem com idéias modernas, sensíveis aos sentimentos da população e que apesar de ter um conhecimento intelectual ou facultativo, ele faz a escolha de defender o povo que não teve muitas oportunidades na vida, com um conhecimento aberto e múltiplo de todos os segmentos populares”, depõe Ivone Landim, professora de Literatura e idealizadora do Grupo Pó de Poesia, em prol de Solano Trindade.

Leia abaixo o seu Poema “Tem Gente Com Fome”:

Trem sujo da Leopoldina / Correndo Correndo/ Parece dizer/ Tem gente com fome/ Tem gente com fome/ Tem gente com fome
Piuiiii
Estação de Caxias/ De novo a dizer/ De novo a correr/ Tem gente com fome/ Tem gente com fome/ Tem gente com fome
Vigário geral/ Lucas/ Cordovil/ Brás de Pina/ Penha Circular/ Estação da Penha/ Olaria/ Ramos/ Bom Sucesso/ Carlos Chagas/ Triagem, Mauá/ Trem sujo da Leopoldina/ Correndo Correndo/ Parece dizer/ Tem gente com fome/ Tem gente com fome/ Tem gente com fome
Tantas caras tristes/ Querendo chegar/ Em algum destino/ Em algum lugar/ Trem sujo da Leopoldina/ Correndo Correndo/ Parece dizer/ Tem gente com fome/ Tem gente com fome/ Tem gente com fome
Só nas estações/ Quando vai parando/ Lentamente começa a dizer/ Se tem gente com fome/ Dá de comer/ Se tem gente com fome/ Dá de comer/ Se tem gente com fome/ Dá de comer/ Mas o freio de ar/ Todo autoritário/ Manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuu.

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