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Confusões de um ser

A primeira queda de bicicleta, a primeira ida ao Cristo. De repente tudo se acaba. "Vai, eu estou te segurando", e quando olha, estás sozinho. O medo por não ter quem segure faz com que ele caia. Quando é apenas uma criança é fácil lidar com tudo. São só brincadeiras, descobrimentos, e despreocupação. Criança cresceu, o neófito tornou-se adulto. "O que fazer?", perguntou ele. A vida é uma eterna caixinha de surpresas, a caixa de pandora, o que lá dentro têm? Vamos partir para o lado filosófico, o que é o real (mundo)? Se são tantos questionamentos sem respostas, qual o mal de estar sem a sua resposta de vida?

Ele caiu a primeira vez! Machucou, carrega cicatrizes. Cicatrizes que às vezes quer maquear por toda sua vida, e por outras, guardar ainda em sua carne, viva, presente. Caminhou, andou, seguiu. Onde foi parar? Não se tem a resposta. Mais uma vez, perdido nas perguntas do tempo. Saiu, encontrou no caminho várias estradas. "Se for por ali e não gostar, eu posso voltar?", se questionou, assim como um jovem, de vinte e tantos anos, que escolhe fazer medicina, mas depois sente a queda pelo direito.

"O que é, o que é (...)", o ser das coisas sempre questionado desde quando era pequeno, e quando cresce, percebe que nunca questionou-se o que é seu ser. "Vamos brincar de roda?". É, sua vida fica andando em círculos. Círculos viciosos de amizade, de comportamento, de quase tudo. Mas o que seria esse tudo? Será que tudo abrange sua vida por completo, ou quase nada? Porquê tantas interrogativas na vida? Ele tentou usar o ponto.

Caso não fosse aquele dia, caso não fosse neste ultimo, o que aconteceria? É melhor esquecer de vez as interrogações e deixar a vida seguir, porém com as respostas ajudariam um pouco. Duas estradas. Na que vai caminho a sua direita, uma criança sorri. Ainda não sabe o sexo, mas consegue vizualizar a beleza do sorriso daquele pequeno ser, que parece até levantar os braços em direção a ele. Em outra, a que encontra-se na esquerda, não há uma criança, mas a vida também é bela, assim como o sorriso da criança que está na outra estrada. Nas duas encontram-se buracos, nas duas encontram-se problemas, nas duas encontra-se felicidade, porém, mesmo tão parecidas, são completamente diferentes.
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Mundo lúdico


“São asas”, pensou.
Naquela tarde o infortúnio aconteceu. Como aquelas mãos pareciam maternas, como tudo era de trazer medo e desejo. A falta de ar perdurou, e ao cair da noite, ela tinha outro significado. Não dia de fogueira, mas fogo tinha por todo lado. Aumentou, cresceu, sentiu. Até causar o incêndio dentro de ti, e esperar um tempo para tudo aquilo se consumar, mostrar que poderia continuar. Conversar não era seu forte, não tinha um rumo, nem sul e muito menos norte. Palavras massageavam o peito quente e com um nó no coração, que desatava a cada dia. E num quarto o amor nasceu. Estava solto. As suas mãos percorrendo o corpo, a descobrir. No beijo revelou o que queria, e que nada que existisse poderia lhe interessar. Curou suas feridas, aquelas trazidas desde muito tempo atrás. Seu mundo lúdico envolvente, como de uma criança, não carente, mexeu com sua vida assim do nada. Escondido nos lençóis, o guardou como um bebê em uma incubadora. Realmente eram asas, ou melhor, era o anjo que vinha e o protegia, o único que em sua vida faltava. 
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Somos Sete

Eu sempre fui recatado em relação aos meus pudores. O desejo se fazia presente, fixado em minha carne, porém o medo me deixava prisioneiro, parado, somente a observar todos aqueles que participavam da vida que me sentia excluído. Aquela bendita, bendito, arrancará tudo de mim, inclusive à visão pura de um mundo libertino, deixando se perder entre sombra, blush, rimel, batom, e desejos carnais, o que um dia foi marcante. Você acredita? Também não. Chamam-me de luxúria, o prazer pulsa ao me chamarem de luxúria. Nenhuma crença me convence, acredito naquilo que sinto, ou melhor, no que vejo pelo espelho. Aliás, acho que quebrei uma unha! Deixa de ser vaidoso? Não sou vaidoso, quer dizer, só sou o necessário para você me admirar e não me tirar da sua cabeça, nessa fixação em me ter na sua cama.
Nunca precisei de ninguém para me fazer ter prazer, não sou dependente. Falaram que eu sou invejoso, mas nem ligo, às vezes dizem coisa pior. Meu orgulho vem em primeiro lugar e se eu quiser você agora, eu pago! Quanto custa, diga? Dinheiro não é problema. Mas concorde que tem que ser um valor justo, nem sempre o produto é valido. Setecentos? No máximo quatrocentos. Tenho de sobra, mas minha avareza não faz desperdiçar nada. Até que você não é tão bobinho quanto pensava, sabe negociar. Mas esperteza demais me causa raiva. Cuidado com o que diz, criança. Ou vai acabar despertando minha ira. Quinhentos e não se fala mais nisso. Hummm, é grande? Você não sabe o tamanho da minha gula. Mas disso conversamos depois, agora a preguiça toma conta de mim e quando isso acontece, acabou a conversa.
Antes de ir, guarda com você. Mas lembre-se que eu sou apenas aquilo que se encontra em você, naquela mulher sentada num bar, naquele homem que trabalha durante a madrugada. O pecado que aflora seus sonhos. Um ser humano, dividido em sete.
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Números ordinários

O primeiro veio trazendo o mundo, depois que trouxe, se quebrou. O segundo, em um segundo, abandonou o que conquistou. O terceiro veio posseiro, mas, enfim, sem posses ficou. O quarto deu-me um abraço e em seguida se encostou. O quinto foi sorrateiro e de mim nada ganhou. E quando não mais queria, o sexto apareceu, me roubou tudo que tinha, depois de um beijo que ele me deu. Me levou pra sua cama, me fez amar, tirou meu ar. Porém em seguida foi-se embora, para nunca retornar.
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